Acordar para Adormecer Mais Um Dia às Claras

abril 11, 2007 at 12:22 pm 12 comentários

Acordar para adormever mais um dia às Claras Aurora cor caramelo desembaça o vidro frio da janela. Alma pesada, remoendo a amargura e carregando o peso de um pretérito mais que imperfeito. Clara fecha as cortinas, puxa um cigarro e traga fundo, parecendo acordar para adormecer mais um dia. Parecia chover uma única nuvem em cima de sua cabeça. Os pensamentos trovoavam raios de angústia e arrependimento. Nos auges dos seus 37 anos, ela não se permite mais falar sobre amor. Senti-lo, jamais. Foi assim que afastou aquele homem dócil e gentil, que lhe presenteava com flores, bombons e cartas poética, repletas de sentimentalismo barato. Vivida, não queria se envolver com mais nenhum homem. Sofrida, apesar de nova. Clara perdeu 18 anos de sua vida namorando aquele traste, que a trocou recentemente por uma gazela sarada de academia. Não, não queria mais ser usada por nenhum homem. Preferia estar só, na insônia de sua madrugada interminável, com o barulho dócil de um silêncio ensurdecedor. Na memória, apesar da dor, lembranças das carícias, dos cheiros, mimos e dos fortes abraços de paixão e ternura. O tempo em que sentia o aroma doce da paixão e a força no palpitar do coração quando seu homem lhe invadia o âmago do prazer. Restou a casa vazia e a garrafa de vinho tinto derramada pelo tapete persa na sala de estar. Manchando cor de sangue uma página feliz de sua vida. Abriu novamente a cortina e jogou a ponta do cigarro pela janela. A luz densa da manhã bailava pela cortina de fumaça da nicotina e irradiava novos horizontes, porém a poesia morreu dentro de sua alma ferida. O relógio corre e o tempo escorre pelas suas mãos como areia. Seus olhos azuis são ocultados pelos seus negros cabelos e sua pele alva é pálida como o sentimento em seu peito. E sempre ao se lembrar de seu passado, um vento forte sudoeste lhe acerta a face e a atira sem piedade ao árduo e insosso vazio de sempre. Quando a aurora cor caramelo desembaça o vidro frio da janela, Clara burla sua alma e não se permite respirar os raios de sol.

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O Vendedor de Sonhos Pra sair Exausto e muitas vezes Pisado.

12 Comentários Add your own

  • 1. Girassol  |  abril 11, 2007 às 1:15 pm

    Como se costuma dizer “ninguém merece tudo isso”.
    Ao longo da vida vamos sendo apanhados por camiões na contra-mão que nos atropelam sem dó nem piedade, nos deixam estatelados no meio do caminho à espera de alguém que preste os primeiros socorros.
    O segredo é não desistir, manter o fôlego mesmo quando ficamos exaustos, aguentar a espera e preencher o vazio. Sem nunca desistirmos de nós, sem deixar que cresçam ervas daninhas à volta do coração, porque o coração precisa de espaço para bater, de emoção, de descompasso (seja aos 18 ou aos 50 anos).

    Beijo.

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  • 2. Ivã  |  abril 11, 2007 às 3:03 pm

    Esse seu barulho dócil é mesmo ensurdecedor. Fiquei imaginando com não deixar de respirar os raios de sol toda manhã… acho que prefiro queimar os pulmões com tanta luz.

    Belas linhas, bela dor.

    Congratulações.

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  • 3. Lubi  |  abril 11, 2007 às 5:12 pm

    Eu me encontro insistentemente nas suas palavras, nos seus personagens, na maneira como você reinventa os sentidos.
    Você é muito talentoso.
    Te linkei.
    Beijo.

    PS: MSN – lubi52@hotmail.com

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  • 4. Lubi  |  abril 11, 2007 às 5:29 pm

    Sem palavra: Lubiana.

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  • 5. B.  |  abril 11, 2007 às 7:30 pm

    Que bom que tenhas gostado. E ah, não sei mesmo quem deixou um comentário por aqui lá do Onabru, pelo menos não fui eu. rs

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  • 6. Carol Montone  |  abril 12, 2007 às 5:06 am

    Vc da o tempero ideal entre azedo e doce em suas palavras…..parabens..vi tudo…a clara, os sonhos pedidos e ate o cigarro……..talvez a clara ja nem gostasse tanto de caramelo ainda virgem, pois quem gosta de se lambuzar d evida nunca dispensa um raio de caramelo….beijos
    Carol Montone

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  • 7. Bárbara P  |  abril 12, 2007 às 2:35 pm

    Por que sempre se ama esperando amor? Não foram 18 anos perdidos… Não há como perder quando é amor o assunto, o tema.

    Gostei demais do ritmo do texto. Muito bom!

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  • 8. Elza  |  abril 12, 2007 às 2:54 pm

    Senti-me lendo um roamance, daqueles cheio de lágrimas.
    rsrs
    =]

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  • 9. luana  |  abril 13, 2007 às 2:02 am

    que texto forte…

    “parecendo acordar para adormecer mais um dia..” eh assim pra muita gente em muitos momentos..e fica a pergunta : ta tudo errado no mundo ou ta tudo errado no MEU mundo?
    🙂

    eu não quero ser mais uma “clara” da vida..se sentir perdida eh uma coisa, se fechar pro mundo eh outra..será que clara nao entendi isso?

    há tanta vidaa lá fora..
    x*

    Responder
  • 10. luana  |  abril 13, 2007 às 2:05 am

    eh esse o meu blog..:)

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  • 11. Sônia  |  abril 13, 2007 às 12:00 pm

    Quero comentar!!!

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  • 12. Bruno Cazonatti  |  abril 13, 2007 às 3:03 pm

    Fique a vontade, Sônia

    Responder

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O Poeta Corrosivo:

Bruno Cazonatti - Carioca, balzaquiano. Um redator feito de resto das estrelas, que insere neste espaço os seus textos e segredos de muitas lembranças caladas, rascunhos amassados e a poeira dos pés da sua curta estrada.
Faz poesia barata com seus segredos revelados em textos compostos de desejos implícitos, e apimenta suas letras mudas, com contos imaginários, salpicados da acidez que aparece entre raios de sol e a tempestade de palavras com aroma de chuva.
Tudo isso, bem misturado às mensagens rabiscadas na essência da sua vida.
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