Toaster
É a fila pra voltar para casa, o povo entupindo a condução, e o estúpido sem fone de ouvido compartilhando o estampido do seu batidão. É rima, é cisma. Deu opinião contrária, pronto, já virou fascista. É a falta que você me faz, é o cartão vermelho pela falta por trás. Expulsão de sentimentos sem timbre, a voz acabou com outro gol do meu time. Impedido. Outra selfie moldando o sorriso, disfarçando a tristeza com cores de filtro. É a lembrança, é a casca da ferida. É o Papa nos dando esperança e, por que não, alegria. É o dogma da sobrevivência, e a minha teoria sobre tudo. A sacana pornografia compartilhada no grupo. É o breve que deveria durar, como o fim do pacote de dados do meu celular.
Bruno Cazonatti
Tudo o que não aconteceu é perfeito.
Amanhã não, por favor. Amanhã é muito longe, distante. Talvez eu nem chegue. Eu vivo é o meu eu, hoje. Porque hoje é sempre o melhor dia, sabe? Eu queria mais, você entende. Muito, mas muito mais. Entretanto, o verbo está no passado e o que passou ficou pra ontem. Perdido no caminho. Hiato de tempo, de sentimentos. Tudo se transforma e se cura. Cicatrizes se fecham, dores passam e nos fortalecem. O que é de verdade permanece. O que é real é mais fácil de voltar. Porém não sei o que foi real. Foi, pois o tempo não volta e, talvez você ainda não saiba, mas hoje é o reflexo de ontem. Saudade se mata hoje. Mas como, se a saudade que sinto agora é de ontem. Então, fecho os olhos para lhe encontrar sempre no passado. E volto ao nosso momento errado. Tudo o que não aconteceu é perfeito. Abro os olhos e fujo com eles quando encontro os seus. Porque ontem você foi meu desejo, hoje você é o meu pesadelo e amanhã será o meu sonho. Amanhã? Não, por favor. Amanhã é muito longe, distante…
Bruno Cazonatti