Mercúrio-Cromo e Band-Aid

julho 11, 2007 at 7:44 pm 26 comentários

Mercúrio-cromo e Band-aid Ontem dormi abraçado numa garrafa de vinho chamada Santa Felicidade. Babei em cima das rimas que escrevi pra uma mulher qualquer. Mandei esse verso pro inferno, antes do samba atravessar a rua e cair de cara naquele sentimento em meu peito. Porque eu não pude sempre pôr a culpa na bebida e a dor de cabeça era o início da ressaca. Meu psicólogo havia indicado repouso e aquelas pílulas que vêm nos recipientes com tarja preta. Ele sabia que eu não podia ficar me controlando tanto. Minha namorada achava que eu só pensava no sexo. Só porque eu sorria e pensava em putaria, quando a via nua, depilando as axilas. Mal sabia que me causava náuseas, quando eu raspava meu bigode com a mesma lâmina que a dela.

Hoje eu cantei uma cantiga de roda e lembrei-me dos tempos de menino. Pena que fui interrompido por um cântico evangélico seguido de palmas e aleluias em troca de dinheiro-dízimo. Fenômenos da fé contemporânea. Nos tempos de moleque era escovar os dentes, não mascar tanto chicletes e pedir a Deus que eu passasse no teste, de álgebra. Saudades de entoar amém. Atualmente eu nem peço nada ao Pai, só agradeço.

Amanhã eu vou deixar de ser fútil e comprar um par de havaianas brancas, pra não andar descalço no chão frio do coração de quem nunca vai me querer bem. Vovó sempre me dizia que eu podia ficar resfriado. Mas eu nem ligava e só acreditava nas dicas do Bozo e escutava as canções psicodélicas do vinil Xuxa 4, aprendendo a fonética perfeita da vida. Mais tarde, quando eu for adulto, espero que os palhaços-pilantras do Senado não fiquem até o fim do mandato e as canções de esperança se façam mais presente, além das notícias de roubo, fraude e extorsão.

Depois de amanhã prometo esquecer toda essa maluquice que tomou conta da minha mente sã. Os romances vindouros vão ser páreo duro para as antigas frustrações e emoções, pois sei que basta colocar a cara à tapa e escrever na areia o nome de quem se ama antes de uma onda do mar apagar. Não, eu não vou rabiscar o futuro em páginas em branco! Vou me permitir ser melhor, quando largar o peso por já ter sido um errante. E vou errar mais também. Qual a graça de saber as respostas da vida? Feridas que se fecham, mas deixam cicatriz. Pronto! Também vou comprar mercúrio-cromo e band-aid.

Anteontem eu decidi tomar um porre de alegria. É que eu nasci sem manual de instruções e aprendi que a vida nos ensina coisas que não foram feitas para a gente decidir. Por isso que comprei uma garrafa de vinho com nome esquisito: Santa Felicidade. Nem lembro direito, só sei que acordei todo babado, com a cara enfiada num papel com escritos de amor e uma puta enxaqueca.

Entry filed under: Ácidos.

Amantes de Amora Vida Remota

26 Comentários Add your own

  • 1. Lunna  |  julho 11, 2007 às 9:43 pm

    Me diz onde comprou essa garrafa de vinho de nome esquisito.
    Eu quero também.
    Abraços

    Responder
  • 2. aguas da vida  |  julho 11, 2007 às 9:53 pm

    Concordo com a Lunna, queremos saber onde vende essa garrafa de vinho, seria uma otima idéia.
    Obrigada pela visita .
    Big Kiss

    Responder
  • 3. Caminhante  |  julho 11, 2007 às 9:54 pm

    Santa Felicidade…
    É um bairro lá de Curitiba. Tem excelentes vinhos.
    Gostou do teu, pelo menos?

    Abraços.

    Responder
  • 4. Lunna  |  julho 11, 2007 às 10:20 pm

    Acho a idéia de bebericarmos o vinho juntos maravilhosa.
    Será um prazer… E obrigada pelo link.
    Você está nos meus favoritos, mas vou adicionar nos meus links também.
    Assim que a preguiça de mexer naquela listinha passar. (ando muito preguiçosa) acho que é falta de vinho.
    Abraços

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  • 5. milla loureiro  |  julho 11, 2007 às 11:38 pm

    sempre tenho mercurio e bandaides em mãos!

    assim n fico com medo de me machucar!

    hehehe

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  • 6. Erika  |  julho 11, 2007 às 11:43 pm

    E com uma dor de cabeça enorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrme, né.. com este vinho completamente doce.. rsrs

    Beijos

    Responder
  • 7. Márcia(clarinha)  |  julho 12, 2007 às 1:44 am

    Enquanto o porre e a puta dor de cabeça forem de santa felicidade ainda pode ter esperança de que a saudade vai rondar por aí, as brincadeiras de criança não vão desaparecer, que entoando amém tudo vai bem e que as respostas da vida não virão se a vida não for muito bem vivida…agradeça ao Pai e rogue para que amanhã tudo não tenha passado de um sonho babado com gosto de santa felicidade.
    lindo dia,poeta
    beijos

    Responder
  • 8. Lorita  |  julho 12, 2007 às 12:10 pm

    Ei psiu…
    Dá um pouquinho desse vinho pra mim? tou precisadinha que só! rs…

    Bjm

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  • 9. Tânia  |  julho 12, 2007 às 12:23 pm

    Havainas branca é tudo, se bem que hoje em dia é fashion, nos tempos de Bozo as cores das havainas eram aquele azul e branco…
    Como eu disse no meu texto fui comprar latas de tinta para pintar as paredes da minha vida, aí pensei …este vinho vinha bem a calhar na hora da pintura…
    Aliás, conheço o vinho…e a ressaca também…*rsrsrsrs*

    Beijo

    Ps.: Tenho sempre na bolsa Band-aid e Merthiolate , se precisar é só pedir…

    Responder
  • 10. Edna  |  julho 12, 2007 às 1:21 pm

    Mais um texto muito bom, parabéns!

    Responder
  • 11. luana  |  julho 12, 2007 às 3:02 pm

    uhuhuh u

    ok, ta perdoado pela ausencia, principalmente aqui no seu cantinho 😛

    ahh, vc ainda vai resp “entrevistas ping-pong”, ainda tem muito tempo pela frente..

    e esse texto heim?Que beleza!
    gostei especialmente da parte que fla sobre andar descalço sobre um coração gelado.. Não dire ito porque, mas essa parte me “tocou”.. hehe
    bem, como não dá pra fugir das inteperies da vida, vevamos..com band-aid por perto!

    namastê!
    x*

    Responder
  • 12. Gustavo  |  julho 12, 2007 às 3:10 pm

    mto bacana teu blog, cara
    mto gostoso de ler…
    parabens
    abracao

    Responder
  • 13. Bárbara P  |  julho 12, 2007 às 3:26 pm

    Menino, prestenção, o que você sentia era dor, não náusea! Porque fazer a barba com a mesma lâmina usada por uma mulher para se depilar é quase suicídio! E havaianas brancas encardem demais da conta. As minhas são rosa choque. heheheheh Se for pra Índia um dia, leve pares extra de havaianas, vale troca por lá. Todo mundo adooooora esses chinelos. Ah! Já bebeu o vinho Santa Teresinha de São Roque? heheheheh Boooommmmmmm. (pra dar ressaca)

    Responder
  • 14. Elza  |  julho 12, 2007 às 3:51 pm

    A santa felicidade faz agente ficar bobo e escrever baboseiras, além de dar um daor de cabeça enorme!!!

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  • 15. João Paulo  |  julho 12, 2007 às 11:48 pm

    Todo o texto é legal, mas afirmo, não por experiência própria e sim de uma amiga quase irmã, pois em um dia desses, ela resolveu comprar uma garrafa do mesmo vinho que você citou e acabou com a cara no vaso, pense num sufoco!

    Ainda bem que vc está são, só estando, pois ninguém fora de si conseguiria escrever com tanta perfeição.

    Abração!

    Responder
  • 16. mila  |  julho 13, 2007 às 12:21 am

    já tomei desse, e causou um efeito bem parecido!!

    adoro como tu divaga por entre vários temas em um texto só. :]

    Responder
  • 17. Christiani Rodrigues  |  julho 13, 2007 às 1:37 am

    Então estamos pensantes juntos: ultimamente só agrdeço também. Bjo e é sempre bom vir aqui. A gente aprende mais um pouquinho como se escreve.

    Responder
  • 18. Clóvis  |  julho 14, 2007 às 7:40 pm

    “Santa Felcidade”, vou guardar esse nome.
    hehe

    Abraço, meu caro.

    Responder
  • 19. Drika  |  julho 15, 2007 às 1:03 am

    Santa Felicidade….bom lugar! Amei aqui….viagem…
    Beijos

    Responder
  • 20. Nilza  |  julho 15, 2007 às 6:12 pm

    Oi..menino!

    este vinho é muito bom, mas é docinho né? E pega pacas …rs Eu adoro vinho e tbm vir aqui. Hoje, venho até vc pra dizer que essas coisas do dia-a-dia são sempre nossas referências e felicidade, além do vinho
    Beijos

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  • 21. Natasha  |  julho 15, 2007 às 6:24 pm

    Olá, Srº ácido!
    Parabéns por mais um texto. Externar os sentimentos de forma simples e inteligente, é talento de poucos. Sinta-se abençoado por isso. Há quem valorize mais as atitudes do que aquilo que verbalizamos. Eu pertenço a uma minoria que acredita no poder da “palavra”…e acho que vc tb. Espero que por meio dos seus textos, vc continue tocando o coração de cada leitor. Que a “Santa Felicidade” esteja sempre presente em nossas vidas.
    Sucesso p/ ti, 4 ever!

    Responder
  • 22. RLima  |  julho 16, 2007 às 2:18 am

    Santa Felicidade… lembro desse vinho em alguma cachaça minha e lembro exatamente da enxaqueca q tive. Daí a vergomnha na cara e nunca mais aceitar qq vinho.r..s.s.s

    Cara vim ao seu blog ao acaso e gostei do q vi… harmonioso em tudo.

    Vim tb te convidar a ir no meu e ver uma sequência de textos q fiz desde o dia 01/07 até o dia 12/07.. vê lá e comenta se gostar..

    Grande Abraço,

    [ http://oavessodavida.blogspot.com/ ]

    O AveSSo dA ViDa – um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais…

    Responder
  • 23. Girassol  |  julho 16, 2007 às 2:06 pm

    Se todas as pessoas tivessem ressacas de Santa felicidade e essa forma poética de encarar o mundo à sua volta, o universo seria bem mais interessante.

    Beijinhos

    Responder
  • 24. Alê Namatê  |  julho 17, 2007 às 3:20 am

    O choro de ontem
    foi ouvindo Bossa
    com uma garrafa de Periquita…
    Ressaca infinita!

    Responder
  • 25. Aline  |  julho 18, 2007 às 1:06 am

    Nossa, o que é que um vinho não faz com um ser humano! Leva-o à infância, fazendo passar por um estágio de consciência política, questionar os conceitos da religião moderna, fazer um poema de amor… cara, o nome desse vinho não podia ser melhor e mais adequado. SANTA FELICIDADE! O Mundo preicisa experimentá-lo para criar um pouco de sensibilidade, lucidez e justiça! Quanto a ressaca… só não vale dor de cabeça!
    Achei bacana os seus textos, viu!
    Abraços!

    Responder
  • 26. B.  |  julho 18, 2007 às 6:38 am

    Deliciosamente amargo e sarcástico, simplesmente perfeito! A brincadeira com o nome do vinho, então (ah, a bebida é boa, eu gosto rs).
    Essa vida… às vezes, penso que é boa assim como é, pois é exatamente por ser assim que alguém como você escreve um texto desses, primoroso.
    Parabéns.

    Bisous.

    Responder

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O Poeta Corrosivo:

Bruno Cazonatti - Carioca, balzaquiano. Um redator feito de resto das estrelas, que insere neste espaço os seus textos e segredos de muitas lembranças caladas, rascunhos amassados e a poeira dos pés da sua curta estrada.
Faz poesia barata com seus segredos revelados em textos compostos de desejos implícitos, e apimenta suas letras mudas, com contos imaginários, salpicados da acidez que aparece entre raios de sol e a tempestade de palavras com aroma de chuva.
Tudo isso, bem misturado às mensagens rabiscadas na essência da sua vida.
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